sexta-feira, 17 de abril de 2009

Tezza

Foi em setembro do ano passado. Eu estava em Curitiba cobrindo férias e tinha acabado de sair da Faculdade de Belas Artes do Paraná quando recebi um telefonema da redação.

- Fabiano! Precisamos fazer uma entrevista com o Cristovão Tezza. Ele está concorrendo ao prêmio Jabuti de literatura, na categoria de melhor romance, com o livro "O Filho Eterno".

- Cristovão "o quê"? - Perguntei completamente fora de órbita, e confessando minha total ignorância.

- Tezza. T. E. Z. Z. A. Tezza! Entendeu?

- Entendi, sim. Passa o endereço dele que a gente já segue pra lá.

Somente quando desci do carro é que me dei conta de que eu estava "pelado". Não sabia absolutamente nada sobre o cara. Apenas que ele era um catarinense radicado em Curitiba e que estava concorrendo a um importante prêmio literário. Foi munido de "todas" essas informações que eu toquei o interfone do condomínio. Uma voz tímida e calma me atendeu do outro lado da linha. Era ele. Diferentemente de muitos admiradores de sua obra, meu primeiro contato com Tezza não foi através dos livros dele, e sim da sua voz.

O homem de estatura mediana, cavanhaque, e olhos um tanto grandes parecia simpático. Abriu a porta apressado. Como quem tivesse mil coisas pra fazer ao mesmo tempo. Pediu que ficássemos à vontade e correu pra dentro. Tinha que atender o telefone que não parava de tocar.

A sala de estar era modesta. Uma mesa, cadeiras, e algumas poltronas. Mas o que mais chamava a atenção eram os livros espalhados por todo canto. Os Irmãos Karamazov dividiam espaço com Dom Casmurro como se a Rússia fizesse fronteira com o Brasil, e Machado de Assis fosse vizinho de Dostoievski. Tinha também Platão, Goethe, Drummond... a lista seria maior se o escritor não retornasse apressado no exato momento de minha contemplação.

- Tem sido assim nos últimos dias - Disse ele. Sem conseguir esconder que estava um pouco sem jeito o assédio - E então? Como vai ser a entrevista?

Enquanto o Gil regulava a câmera, e o Júlio colocava o microfone de lapela no escritor, eu tentava descobrir um pouco mais sobre Cristóvão Tezza. Descobri que ele era professor de literatura na Universidade Federal do Paraná, tem obras lançadas na Espanha e Portugal, e escrevera "O Filho Eterno" inspirado no filho que é portador de síndrome de down. Além disso seus textos podem ser vistos semanalmente no jornal "Gazeta do Povo".

Eu não sei se eram os olhos grandes dele, mas Tezza me parecia assustado. Cheguei achar que talvez aquele homem não tivesse noção de que se tornara uma referência literária em todo país. Depois mudei de idéia. Seria como subestimar a inteligência dele. O escritor começou a entrevista um pouco tímido. Mas Tezza foi ficando teso ao perceber que toda a conversa girava em torno de sua obra. Falou com propriedade; como progenitor de uma obra que certamente contagiará os leitores mais afoitos.

A única coisa que me deixou triste é que achei que ele me daria um exemplar do tão badalado livro. Cheguei a imaginar a cena. Um pequeno devaneio:

- Olha. Eu agradeço a entrevista e gostaria de presenteá-los com meu livro. Espero que gostem. Vou até autografá-los. Como é mesmo seu nome? Cristiano, né?

Mas não rolou nada disso. Tudo que me foi dado foi a oportunidade de folhear o livro. Não tem problema. Afinal, a leitura no Brasil precisa ser incentivada. Compremos livros, minha gente. Na semana passada comprei meu exemplar de "O Filho Eterno". A obra não só ganhou o Prêmio Jabuti de literatura, mas ganhou também: Prêmio Portugal Telecom, Prêmio da Associação Paulista dos Críticos de Arte (APCA) - melhor obra de ficção, Prêmio Bravo - Livro do Ano, 1º lugar Prêmio São Paulo de Literatura - Melhor livro do ano 2008, e por aí vai.
É uma baita obra. Boa leitura pra mim. Parabéns, Cristovão Tezza.

segunda-feira, 13 de abril de 2009

ovo...


E qual o sentido de se comer ovo de chocolate na Páscoa? Não sei ao certo. Sei apenas que há um motivo, uma explicação. Eu poderia, nesse exato momento, dar uma pausa no texto aqui e pesquisar no google algo sobre isso. Certamente a postagem ficaria mais "cult", mais requintada. Mas como aqui não é nenhuma fonte de pesquisa, prefiro falar do que acho sobre o assunto. Leia se quiser.

Pensar no ovo como um prenúncio da vida talvez faça com que a páscoa tenha esse belo sentido metafórico.
Dentro do ovo há vida. Ela ainda não é visível. Mas está lá. E fazer com que a vida saia da casca pronta para se deixar consumir pelo tempo depende da forma como o ovo é aquecido. Exige tempo, dedicação, paciência, zelo. Chegue perto de uma galinha choca e entenderá bem o que é isso. A Páscoa é a fertilidade vindo à tona depois de ter sido "chocada" pelas intempéries da vida. Pelas dores, sofrimentos, tombos, atitudes, e situações que mexem conosco de tal forma que não há outra coisa a fazer a não ser recomeçar.

A imagem do ovo também me traz à mente a atitude do cara que não soube lidar com as amarguras do dia-a-dia e se fechou numa casca, numa redoma. Resolveu preservar a vida. Esqueceu que vida que passa intacta é a contrariedade sem sentido. Vida boa é a que se consome. É aquela que passa o tempo necessário dentro do ovo, mas que reconhece que uma hora é preciso romper com a casca e ganhar o mundo. É a que recomeça depois das decepções, das lágrimas, das expectativas não superadas. É a que ressurge quando todos já a julgavam morta.
Vida boa é a que vive uma páscoa constante. Não se prende a calendário. Mas, unicamente, à vontade de viver e de recomeçar depois das quedas.
Que seja assim pra todos nós!!! Feliz Páscoa!!!