sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

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"Tem piedade de mim, Senhor! Aqui estão, não escondo as minhas feridas: tu és o médico, eu o doente; tu és o misericordioso, eu o miserável... Cada esperança minha se coloca na tua grande misericórdia". (Confissões, Livro X, 28.29; 39.40).
Os textos de Santo Agostinho sempre me fascinaram. Eles expressam uma sinceridade que desnuda o homem por trás do bispo. O ser humano por trás do santo. Agostinho vivia o tempo todo lutando contra as fraquezas que o afligia, tinha consciência de sues limites. A história dele fez com que eu mudasse meu conceito de ser humano. Ser “pessoa” dá trabalho. Há momentos em que a nossa humanidade se faz demasiadamente humana e encontramos em nós uma fraqueza que não parece ser nossa. É quando nos deparamos com a realidade de ser o que se é.
Eu, vez ou outra, me deparo com o medo. Pode até parecer uma simples figura de linguagem, ou um pleonasmo, mas não é. O medo me amedronta. Tenho medo de não ser últil para aqueles que amo. Acredito que somos aquilo que deixamos como marcas na vida das pessoas e temo não conseguir deixar nada de bom. Tenho medo de falhar justo na hora em que alguém precisar do meu sorriso, do meu afeto, do meu abraço. Tenho medo de passar em branco.

Na verdade, além disso, acho que tenho medo de não me sentir amado. Por isso aflora em mim esse desejo agudo de amar, e de que me deixem fazer isso. Não se invade corações. Trata-se de território sagrado, envolto em mistérios. Lugar onde nem mesmo Deus ousa entrar sem permissão. Dizem que o coração é uma porta que tem apenas uma maçaneta, e do lado de dentro. Só você pode abrir o seu. Só você pode superar os traumas que o trancafiam e se abrir para o outro. Afinal, deixar que o outro lhe seja útil é uma forma de se deixar amar. E deixar-se amar também é uma forma de retribuir amor.