segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

Hoje...



Hoje estou meio chateado. Sei lá o que se passa. Vez ou outra eu me pego pensando nessa coisa maluca de planejar o futuro, olhar adiante, buscar o horizonte. Acabo me dando conta de que somos tão volúveis, e que o próprio destino é volúvel. Traçamos metas, fazemos planos... e quem pode garantir que tudo se cumprirá? Não sei. Só Deus. Acontece que faz parte da sapiência divina não nos revelar o “amanhã”. Deixar que ele esteja atrelado ao nosso “hoje”. Talvez seja esse o motivo da minha chateação: o peso da responsabilidade. Quando nos damos conta de que ser feliz depende da gente mais do que qualquer outra pessoa, ou coisa, não é o sentimento de liberdade que se sobrepõe. Mas o do desafio de como lidar com essa liberdade. Os hebreus ficaram errantes no deserto por 40 anos após serem libertados das mãos do Faraó. E reclamavam que tinham saudades da escravidão. Tempo onde a comida e o pouso eram certos. Ter que ir atrás daquilo que queremos por nossos próprios esforços deprime, sim. Hipócrita o que diz que não. Tem dias em que tudo parece inalcançável, longe, impossível. Mas, ao mesmo tempo em que escrevo isso, eu me lembro do quanto já andei pra chegar até aqui. Já andei mais do que esperava andar, já percorri uma longa estrada. E acredito que chegar lá é ter os olhos no final sem deixar de calcar os pés no começo. Não importa o tempo, não importa a hora, e não importa o cansaço. O importante é chegar.
Sei que quase ninguém lê isso, mas ainda assim peço desculpas pelo desabafo. Quando as pessoas me fogem eu me conforto nas palavras. Pô-las pra fora de alguma maneira, é sempre uma forma de dar de si. Mesmo que não se tenha muito o que dar em dias como esse. Ainda sim continuo sendo eu.

segunda-feira, 13 de outubro de 2008

Beatitude Hipócrita

A hipocrisia é a lei que rege nossas vidas. É nela que nos baseamos na hora de tornar legítima nossa irresponsabilidade latente. Sempre dá certo.

Veja você que, muitas vezes, o Diabo é acusado de crimes que não cometeu. Constantemente levantamos falso testemunho contra ele. Pecamos contra o Gramunhão, como se a culpa de todos os males viessem dos calabouços do inferno. É o alívio psicológico que tranquiliza a alma. A auto-enganação.

A beata que não tinha seus pedidos atendidos estava certa de que era o Diabo quem conspirava para que suas preces fossem ignoradas. Esfregava o terço como se fosse a lâmpada do Alladim. Aí, como nem Deus nem o gênio apareceram, ela concluiu que seria preciso radicalizar. Pensou num jejum. Daquele feito pelo bispo nordestino e que comoveu o Brasil. Quem sabe a misericordia divina não viria a seu favor?

Diante do sacrário ela firmou compromisso. Ficaria um mês à base de pão e água, até que suas preces fossem ouvidas. Preces que ninguém nunca soube o que continham. Tratava-se de um segredo entre ela e o Criador. Como o celibato é agradável a Deus, também daria uma pausa nas relações durante esse tempo. Não sabia se o marido compreenderia. Sabia apenas que o plano era infalível. Até podia imaginar, além das nuvens, o rosto do Senhor chorando, comovido com tamanha devoção. Tanto imaginou que ela própria chorou. Ficou com dó de si mesma. Coisas de beata. Normalmente elas se admiram.

Feito o voto a beata foi direto até a padaria. Comprou mais pão que o normal. E como o padeiro não fez nenhuma observação sobre isso, ela achou que deveria se explicar. Contou que fizera um acordo com Deus. Pagaraia a graça recebida na base da abstinência. Por isso queria os pãezinhos mais murchos. Nada de prazeres. Afinal de contas, o jejum é exatamente o antônimo do prazer.

O olhar solidário e compassivo do padeiro deu à beata a certeza de que estava na direção certa. Certeza que ficou redundante quando contou pra vizinha sobre o plano sagrado. Teve as mãos beijadas, recebeu uma profunda reverência. Foi canonizada pela dona Maria. Esse tipo de adulação era tudo que a beata queria. Em nenhum momento ela pensou em abster se do ego.

Depois de uma semana de jejum ela já não fazia os serviços de casa. Não tinha forças. Passava o tempo esparramada na cadeira de balanço da varanda. Achava-se nobre. Grande. Lembrou-se da reação do marido, que a chamou de louca quando ela negou um carinho preliminar investido por ele. Foi assim por dois dias. No terceiro dia o bafo da esfomeada estava tão insuportável que o marido decidiu dormir na sala. Deixou que a beata dormisse com os anjos. Mas a beata já não tinha tanta certeza da coerência de seus atos. Via isso como a provação pela qual passam os santos. E pensou no verdadeiro sentido do sacrifício. Talvez ele só valha quando necessário. Como um mal que vise um bem maior. De modo que não possa ser usado como uma chantagem, para mostrar que a vontade de um pedido atendido está acima das necessidades humanas. Talvez estivesse errada. A fome, que normalmente faz com que as pessoas percam a razão, parecia trazer juízo àquela mulher.

Na manhã seguinte a beata acordou numa cama de hospital. Estava recebendo soro e a filha disse que estava feliz por ela ter tomado um prato de sopa. Pobre beata. Chorava copiosamente. Foi traída pelo próprio inconsciente e quebrou a promessa sem perceber.

- Não fui eu! - dizia ela. - Foi o Encardido que me fez faltar com Deus. A culpa é dele. Esse demônio seduziu meu inconsciente e me enganou. Sou a própria Eva comendo a maçã do Paraíso!

Nunca pensou no fato de que Eva comeu do tal fruto por ambição. Que a fome não pode ser vista como uma tentação do inferno, e sim como necessidade do corpo. Também não se lembrou que assumir as consequências dos próprios atos é uma necessidade do caráter do ser humano.

sábado, 27 de setembro de 2008

OUTRA DE ÔNIBUS!!


Quando o ônibus parou na rodoviária de Ribeirão do Pinhal meus olhos estavam marejados. Eu estava mais uma vez a caminho de Umuarama e já sentia saudades de casa. Além disso acabara de ler "Adeus, China. O Último Bailarino de Mao", a maravilhosa autobiografia de Li Cunxim.
Mal percebi quando a moça se sentou ao meu lado. Na verdade, dormi minutos depois. Acordei em Cornélio Procópio com minha companheira de viagem perguntando onde estávamos. Só aí começamos a conversar. Ela mora em Londrina a pouco mais de um ano e estuda administração de empresas. E, assim como eu, estava voltando de uma visita à família. Disse que era a única solteira de três irmãs. Não tinha pressa de casar, embora a mãe pegasse no pé. Parecia querer mais netos.

- Por que não pede pra minhas irmãs providencarem? - ela perguntou.

- Talvez, mais do que netos, ela queira que você tenha filhos. - respondi.

- Pra que filhos? Eles só atrasam nossas vidas!

Por alguns minutos ficamos em silêncio. Tentei responder que é o ciclo da vida. Que não podemos fugir dessa regra da natureza. Os seres se reproduzem, e assim pode ser que se sintam menos sozinhos. Mas as palavras não vieram. Também me dei conta de que não é muito justo pensar em filhos apenas para aliviar a solidão. Que perpetuar nossa nossos genes não pode ser uma mera questão de sangue, mas de maturidade, de escolha. Ocorreu-me a frase de Machado de Assis: "Não tive filhos. Não transmiti a nenhuma criatura o legado de nossa miséria!" Seria um orgulho bobo pensar em filhos como resultado de cromossomos que se somam. É preciso dar a eles mais do que sangue nosso, mas o aprendizado de que todos têm uma missão a cumprir. Afinal, crianças não vêm ao mundo para fazer companhia aos pais na jornada da vida. Vêm para trilharem seus próprios caminhos. Por fim... lembrei que também eu não queria filhos tão já.

- Mas você não pensa nem mais pra frente? - Perguntei.

Fiquei surpreso com o tom da minha voz. Era de desapontamento. Parecia até que, se ela mudasse de idéia, eu seria o pai do bebê. Por um momento quis rir de mim mesmo.

- Filhos nos amarram. Assim como marido e amigos. Quero ser livre! - ela disparou.

- E o que fará com sua liberdade? - A pergunta era pra mim mesmo. Mas pensei alto, e a voz me denunciou.

Pela primeira vez ela me olhou nos olhos. Era bonita, jovem, e tinha um ar decidido. Mas o silêncio disse que ela não sabia a resposta.

Talvez ela nunca tenha pensado que a liberdade não pode ter uma finalidade em si só. Que não basta dizer "sou livre". Certamente alguém perguntará: "livre para quê?". A liberdade pede um motivo, uma razão de ser. Mesmo que seja a de ser livre o bastante para se manter "preso" a algo, ou alguém. E isso tem sido mais comum do que a idéia de se prender à própria liberdade. Seja qual for a resposta, eu não a soube.

O assunto foi pra outro rumo: Profissão, estudos, apartamentos em Londrina... a trivialidade voltou a pautar a conversa. Mas a liberdade sem sentido ainda marteleva minha cabeça. Cheguei a cogitar a possibilidade de que talvez ela estivesse certa. Não quanto ao fato de se sentir amarrada a filhos ou a homens. Mas quanto ao desejo de liberdade antes de tudo. Talvez seja essa sua sina: A de buscar o sentido para a liberdade que quer. E como diria Lulu Santos, se amanhã não for nada disso caberá só a ela entender. Os ganhos e as perdas não dizem respeito a ninguém, mas só a ela.

O ônibus chegou em Londrina e ela desceu. Um "tchau" encerrou de vez a viagem. Só então me dei conta de que, durante pouco mais de uma hora de conversa, não nos apresentamos. Apenas trocamos histórias. Percebi que sabe-se mais do outro trocando histórias do que perguntando nomes. Afinal, nossas vidas não são os nomes que temos, mas as histórias que vivemos no decorrer da nossa existência.
Ela, por certo, estava vivendo a dela. Pegara a bagagem e, sem olhar pra trás, sumiu em meio às pessoas da rodoviária.

sábado, 13 de setembro de 2008

Algumas histórias de ônibus




- Senhor!! Senhor!! O senhor está sentado na minha poltrona, a número 1. Eu disse enquanto conferia o bilhete de passagem pra me certificar de que estava mesmo com a razão.

Ele não pareceu se importar. Olhou para mim com cara de "paisagem", ajeitou os óculos que estavam tortos e me disse bocejando:

- Tem um monte de poltronas vazias aí pro fundo! E voltou à sua posição de hibernação.

A minha paciência, que nem começara a ser testada, se esgotou. Olhei para aquela "pamonha humana" e falei sem pensar:

- Então o Senhor faz favor de levantar essa bunda gorda daí e escolher qualquer uma delas pra continuar roncando. Eu comprei o direito de ir nessa poltrona e é nela que eu vou.

O homem fez cara de quem não gostou. Mas no duelo de caras feias eu acabei levando a melhor. Ele se levantou, pegou as coisas dele e foi pro fundo do ônibus. Lá estava eu na "Poltrona Prometida" usurpada por um filisteu inóspito que fora vencido.


Um lampejo de remorso veio a mim quase que imediatamente. Será que eu não tinha exagerado? Não fui grosso demais com o pobre homem? Certamente eu não precisava ter falado daquela maneira. Mas eu já estava cansado de toda vez que entrava num ônibus ter que me sentar em outro lugar porque o meu já estava ocupado. Pior é que depois o dono do lugar sempre chega e faz aquela cara sem graça que te deixa como um cão sarnento sendo convidado a sair da porta do buteco. Não... eu estava decidido a ser chato e sistemático. Cada macaco no seu galho. E sentar-se no galho alheio pra mim passou a ser visto como uma tremenda falta de respeito.

Certa vez eu ia para Curitiba quando um bêbado sentou na poltrona atrás da minha. A língua parecia pesar 5 quilos dentro da boca e o aroma denunciava que atrás de mim estava a personificação de um alambique. Mas o meu calvário começou mesmo quando o sujeito começou a tacar o pé sobre a minha poltrona pra dormir o sono dos "manguaçados". Primeiro foi a pancada que levei na cabeça. Depois o chulé dos pés suados, que misturado com cheiro da pinga fazia o oxigênio parecer ácido. Deu trabalho convencer o fulano a dormir igual gente.

Outro dia, quando também ia pra Curitiba, o show ficou por conta de um menino de uns 4 anos de idade. De Jacarezinho até Jaguariaíva o menino só sabia gritar. Um grito agudo que fazia o choro da Raqueli parecer um mero timbre de contralto perto dele. Quando se cansava dos uivos, o guri apontava para o pasto e berrava a plenos pulmões:

- Óia o booooooooooooi, Manhê!!!

Com muito custo, em meio aos berros, consegui pegar no sono. Sonhei. E o que vi, ao contrário da realidade, fez com que eu acordasse rindo. Durante a viagem, quem estava dentro do ônibus era o boi. Pude vê-lo apontando pro pasto, desesperado, e mugindo algo que em bom português soaria como :

- Óia o meninoooooooooo, Manhê!!!!





Timidez!!!



A timidez (quando em excesso) é uma espécie de redoma que protege nosso ego.
Quem a vê de maneira superficial se engana. Acha que se trata de humildade.
Grave erro. O humilde busca o aperfeiçoamento consciente de sua fraqueza. O tímido, também consciente de sua fraqueza, espera que o aperfeiçoamento venha até ele.
Essa preocupação em não se expor, em mostrar-se vulnerável, passível de erros, é a maior prova de que o foco está unicamente em nós mesmos. É como se houvesse uma obrigação de ser perfeito, de negar as características que fazem com que sejamos humanos.
Erramos, passamos por constrangimentos, magoamos as pessoas, sofremos. Essa realidade é inerente à nossa condição. Mas o tímido parece negar tudo isso. É capaz de sacrificar suas vontades para não criar uma imagem demasiadamente “humana” perante as pessoas. É um egoísmo velado, um estágio para a auto-suficiência. É como se todo mundo estivesse de olho nele. Portanto que ele não erre, pois não tem esse direito. O tímido, na verdade, se acha. É uma espécie de covarde enrustido.
Eis aí uma coisa que luto para matar dentro de mim: O medo de errar. De ter que pedir perdão pelas falhas que seguem acontecendo independente dos meus temores e cuidados.
Cazuza cantava de maneira resignada que o tempo não pára. Os erros também não. Então, que o aprendizado seja outra constante em nossa vida. Que seja o erro transformado em bem maior para que possamos seguir o intempestivo cronômetro da vida humana.

sexta-feira, 29 de agosto de 2008

AVANTE!!

Hoje não tenho muito assunto. Só quero poder olhar pro espelho de cara lavada e dizer:
"Mostra que o que pensam de você é muito pouco perto do que você sabe de si mesmo.
Que bem maior que o descrédito dos outros é sua capacidade de ser melhor, de crescer.
E lembre-se que o todo crescimento é gradativo... que os espinhos antecedem o desabrochar da rosa.
Não passe recibo para aqueles que te subestimam. A estima que vai alavancar o seu trabalho está dentro de você e não nas concepções alheias.
Confie em si mesmo mesmo quando te olharem incrédulos. A fé não precisa mover montanhas, basta apenas que mova seus pés.
Que o seu melhor hoje seja o ponto de partida para amanhã, para que "superação" seja seu lema.
Jamais esqueça suas origens. É mais fácil saber onde quer chegar quando se sabe de onde veio.
Lembre-se das pessoas que estão em sua casa. Elas oram por você. Pensam em você enquanto você chora sozinho por medo de não conseguir.
E nunca se renda diante das dificuldades que surgirem. São elas que mostram o quanto custa chegar até o final. São elas que temperam o sabor da vitória!!!"



quarta-feira, 13 de agosto de 2008

DE PATRÍCIA PILLAR À SUPER HOMEM...



As palavras têm o poder de se fazerem nossas mesmo sendo proferidas por outros. É a magia da linguagem, onde o que é dito pode ter vários sentidos. Então... por que não vários proprietários?
Não sei por qual motivo me caiu nas mãos uma entrevista da Patrícia Pillar. Sim, sim. A Flora, psicopata de “A Favorita”. A Luana sem-terra de “O Rei do Gado”, a esposa de Ciro Gomes. Ou simplesmente a Patrícia. Mulher, brasileira, atriz. Perguntada sobre seu casamento disse a frase da qual me aposso: “É na fragilidade que os encontros acontecem!!”.
Gostei de ler isso. Reforça em mim a idéia de que um bom relacionamento é feito de almas que se completam. Fragilidades que se encontram e se superam. Desmistifica o clichê da “pessoa ideal”, do “príncipe encantado”... da “cinderela”. Não existe a pessoa perfeita. A perfeição por si só se basta. Os gregos a vêem como algo que já está acabado, pronto, chegou onde devia chegar. De maneira que a pessoa perfeita não precisaria do outro. É a contradição da condição humana, que é a de ser social, carente de contato. Sociologia à parte, a força do homem está justamente em reconhecer a fragilidade que se tem. Em ser o que se é.
“Ser o que se é” faz com que estejamos em constante processo de sermos melhores. É a conseqüência natural do auto-conhecimento que, por sua vez, nos dá maior facilidade para conhecer os que nos cercam. Entrar no mistério do outro.
São as nossas fragilidades que nos fazem humanos. Nos diferenciam dos anjos, do príncipe encantado, dos heróis da Marvel. Quando vêm à tona nos lembram de que não existe super-homem. Que são mais reais que as kryptonitas. Parecem nos avisar que o verdadeiro herói é aquele que consegue voar com os pés no chão. Ciente das próprias limitações. E quem vai dizer que isso é ruim? Foi em terra firme que Clarck Kent conheceu Lois Lane.

sábado, 9 de agosto de 2008

DIA DOS PAIS

Meu pai se chama “Nadir”. É mulher, linda, e antes de mais nada, é minha mãe. Foi essa mulher quem me ensinou a ser homem. Além do ofício materno, Nadir me ensinou a andar de bicicleta, recuperou as bolinhas de gude que perdi para os amigos. Joga como ninguém. Ensinou-me que “não” é não, e que “pode ser” é quase um “sim”. Minha mãe é guerreira. Era ela quem eu chamava quando tinha medo de apanhar na rua. Foi ela quem pegou a primeira cartinha de amor que escrevi para a Télia, uma colega do primário. Lembro que ela me dizia: “Filho, você vai estudar e fazer uma faculdade! Tem que ser alguém na vida e isso se consegue estudando!”. Eu nem sabia o que era faculdade.
Um dia ela ficou sabendo que eu tava aprendendo violão na Igreja. Não fui eu quem disse isso pra ela. Eu não levava a música a sério. Aí ela chegou com um violão em casa e disse que tinha comprado pra eu aprender. Vive cantando as “modas” comigo.
Quando resolvi cursar jornalismo fui falar com ela. A faculdade era particular e eu precisava saber se teríamos condições de pagar. Achei que ela fosse perguntar o preço, mas a primeira coisa que ela me perguntou foi: “Você quer fazer o curso? Se quiser presta o vestibular que nós damos um jeito!”. Minha mãe deu um jeito. Até hoje ela paga empréstimo no banco. Cumpriu a palavra.
Quando saí de casa as lágrimas que vi nos olhos dela era de quem sabia que um dia todo filho ganha o mundo. É natural que seja assim. Já eu chorava porque me afastava do meu porto seguro, meu sustento, minha base.
Ainda não venci na vida. Falta muito pra isso. Mas ainda assim sigo lutando. Aprendi com ela que sem luta não há êxitos, sem lágrimas não há triunfos, sem caráter não há pessoa.
Sabe aquela frase que diz: “Meu pai é meu herói”? Então... eu fujo à regra. Tenho apenas uma heroína em minha vida!
Amanhã enquanto os filhos estiverem abraçando os josés, os antônios, os paulos da vida... eu estarei no telefone com a Nadir. Direi a ela: “MÃE! FELIZ DIA DOS PAIS!!”

sexta-feira, 18 de julho de 2008

Opinião é algo que se deve ter. Não, necessariamente, dar. Mas tá aí algo que se dá mais do que esmola na Praça da Sé. É dada sem pedir, sem se esperar, e até mesmo sem se desejar.

"Por que não deixar sua calça assim?"

"Eu acho que sua casa ficaria melhor azul"

O palpite, meu caro, é a caridade dos hipócritas. Daqueles que não tem os olhos em si mesmos, mas são exímios conselheiros de terceiros. Dizem que é o bom senso, coisa que ultimamente vejo longe das pessoas que o defendem.

sexta-feira, 27 de junho de 2008

Drão!!


Ainda sigo meloso. Abobado por "certas canções" que, como diria Tunai, "cabem tão dentro de mim que perguntar carece: 'como não fui eu que fiz?'". Deixemos que os monstros da música falem por nós.
Dessa vez Gil é o porta-voz. E eu o ouço como se ele tivesse acabado de compor para Sandra, ex-esposa apelidada de Sandrão, e chamada por ele de "Drão".

Penso que essa é a beleza da música bem feita: Embora composta num determinado tempo, contexto, cenário, se torna atemporal, subjetiva, posse de quem ouve. Hoje é minha sem, no entanto, deixar de ser dele. Sabe-se lá quantos outros se apossam dela? Também não importa. Posto abaixo a música do velho baiano que traduz sentimentos tão meus.

Drão, o amor da gente é como um grão

Uma semente de ilusão

Tem que morrer pra germinar

Plantar n'algum lugar

Ressucitar no chão, nossa semeadura

Quem poderá fazer, aquele amor morrer, nossa caminha dura?

Dura caminhada, pela estrada afora


Drão não pense na separação

Não despedace o coração

O verdadeiro amor é vão

Entende-se infinito, imenso monolito, nossa arquitetura

Quem poderá fazer, aquele amor morrer, nossa caminha dura?

Cama de tatame pela noite escura


Drão os meninos são todos sãos

Os pecados são todos meus

Deus sabe a minha confissão, não há o que perdoar

Por isso mesmo é que há De haver mais compaixão

Quem poderá fazer, aquele amor morrer, se o amor é como um grão?

Morre nasce trigo... vive morre pão... Drão!!

quinta-feira, 12 de junho de 2008

Hoje é dia...



Hoje é dia dos namorados. Para os solteiros, como eu, nada muda na ordem do dia. Acordei cedo, trabalhei, e assim que postar esse texto vou dormir. Os jornais vomitam reportagens sobre presentes, alimentos afrodisíacos, loucuras de amor. Não satisfeitos com a nossa depressão solitária, mostram também histórias de casais que se conheceram através da internet, desde a infância, ou depois dos 70 anos. Quem sabe eu não sonhe com uma namorada? Quem sabe eu namore um sonho?
Brincadeiras à parte, hoje é dia de promover o conhecimento. Afinal de contas namoro é isso. O processo de conhecer o outro e de aprender a lidar com os limites, defeitos, crescer junto. É a amizade criando asas e alçando vôo até as alturas. É a bobeira mais deliciosa do mundo.
Ah! Quem sou eu pra falar disso? Como diz minha nobre amiga Aline Brasil: "se é para conhecer, vamos conhecer a nós mesmos". É Sócrates tomando o lugar do cupido.
Um feliz dia dos namorados para os pombinhos apaixonados!

Eu, como já disse, assim que postar esse texo, vou dormir!!!

terça-feira, 10 de junho de 2008


O acaso é um jeito criativo que Deus tem de providenciar as coisas. É a beleza discreta, mas óbvia. Não percebe-lo e não vivenciá-lo é um desperdício, quase que um pecado. É nisso que venho pensando ultimamente. Que às vezes enterramos o que está vivo para que o dia-a-dia se encarregue de matá-lo. Somos assassinos de oportunidades.
O “acaso” nos põe a pessoa certa, do jeito certo, na hora certa. E nos falta a sacada para ver o que está diante dos nossos olhos. É a cegueira de quem enxerga quilômetros adiante sem a sensibilidade de ver o que está a um palmo de nós. O “acaso” não me protegeu enquanto eu andava distraído.
Será que ainda há tempo?
E se eu insistir? Pedir? Explicar que minha cegueira era a carência travestida de orgulho? Há chances de se conseguir algo?
Acredito que, na medida em que crescemos, deixamos de esconder certos sentimentos. Sobretudo aqueles que nos mostram quem somos, ou o que somos. Chega uma hora em que nos preocupamos apenas em vivê-los. E é bom que seja assim. Hoje é isso que eu quero. Acho que essa é a lógica do verdadeiro afeto, carinho, amor.. algo que se vive sentindo... ou que se sente vivendo.

quinta-feira, 20 de março de 2008

Misericórdia

Certa vez ouvi de um pregador: “A justiça de Deus se chama Misericórdia”. Nunca me esqueceria disso. De fato, o que seria de nós sem esse presente do Senhor? Sobre isso o Papa João Paulo II disse em certa ocasião: “devemos à misericórdia de Deus se ainda não estamos mortos”. Felizmente, a justiça Divina não segue os padrões da justiça humana. A justiça Divina é pautada pelo amor. A justiça humana, às vezes, se confunde com a vingança. Elas partem de pressupostos diferentes. A palavra “justiça”, dentre seus muitos sentidos, é a “virtude de dar a cada um aquilo que é seu”. É interessante frisar que o homem, de um modo geral, dá a cada um o que é seu baseado no que recebe em troca, de modo que a justiça nem sempre seja uma virtude. Acrescenta-se que esse conceito de justiça fez parte da filosofia agostiniana, e nos faz lembrar que nenhum homem merece a salvação, visto o estado de pecado no qual ele já nasce. Mas Deus, por Sua vez, usa dessa definição de justiça dando “a cada um o que é seu” de forma gratuita. Temos, então, a Misericórdia, que significa “compadecer-se da miséria alheia”. Trata-se da capacidade do indivíduo de se colocar no lugar do outro em determinada situação de sofrimento. Por tanto, é um fruto imediato do amor. E ninguém foi tão misericordioso quanto o próprio Cristo. O Filho de Deus quis se colocar em nosso lugar para que não tivéssemos de padecer por nossas faltas. E Ele não só se “compadeceu” de nossa miséria, mas padeceu sozinho, nos remindo do pecado. (Cf. Is 53,4)
Não se trata, entretanto, de um mero sacrifício. Os sacrifícios ofertados pelos israelitas no Antigo Testamento tinham por única finalidade justificar o seu “eu” perante Deus. Não era um ato gratuito. E quando o ato não é motivado pelo amor, pode nos levar à auto-suficiência e à ilusão de que a Graça de Deus parte, unicamente, da nossa disposição em nos sacrificar. O homem estaria pagando a Deus por suas faltas e, em certos momentos, era como se Deus passasse a lhe dever algo em vista do sacrifício oferecido. O homem estaria fazendo justiça (segundo o conceito humano), e isso atrairia a Graça. Foram para situações como essas que o Senhor disse: “Eu quero a misericórdia, e não o sacrifício” (cf. Os. 6,6). A misericórdia é o cerne da prática Cristã por ser atitude de quem ama e ser direcionada, necessariamente, ao outro. Era de cristãos misericordiosos que Tertuliano (+122) falava quando expressou a famosa frase “Vede como se amam”. Esses cristãos sabiam que, uma vez alvos da misericórdia de Deus, também eram chamados a exercer a misericórdia aos outros. “De graça recebestes, de graça deveis dar.” (Mat. 10,8); “Bem aventurados os misericordiosos, por que alcançarão misericórdia” (Mat. 5,7).
Nota-se a Misericórdia, também, na capacidade do Senhor de transformar o mal em bem. Em seu livro “Memória e Identidade”, o papa João Paulo II relembra suas reflexões durante a Segunda Guerra Mundial e o Comunismo: “Mais tarde, já com a guerra terminada, eu pensava comigo (...) deve haver um sentido em tudo isso (...) eu pensava isso sim. Que de alguma forma aquele mal deveria ser útil ao mundo e ao homem. De fato acontece, em certas ocasiões, que o mal se revele útil enquanto cria situações para o bem. Porventura Johann Wolfgang von Goethe não definia o diabo como ‘uma parte daquela força que quer sempre o mal, e faz sempre o bem?’”, pensava o jovem Wojtyla. Surge aí uma das suas impressionantes conclusões: a Misericórdia Divina impõe um limite ao mal. Ora, como não desejá-la? Como negar essa conseqüência inerente a um Deus que é Amor?
Uma outra análise feita por João Paulo II no “Memória e Identidade” fala das revelações da Irmã Faustina Kowalska à respeito da Divina Misericórdia. Essas revelações surgiram no momento em que explodia a Segunda Guerra Mundial. Era o aviso de que a Misericórdia de Deus não estava alheia àquele triste momento pelo qual passava a humanidade. Seus braços estavam abertos aos que O quisesse. De fato, a Polônia e alguns países da Europa precisavam dessa certeza. Sobretudo os homens, de uma forma mais subjetiva, necessitam dessa certeza: A certeza do Bem Maior diante do mal. Para tanto, é preciso se reconhecer pecador e limitado enquanto homem, não ocultar nossas feridas. Como pensava Santo Agostinho, O Senhor “é Misericordioso, e eu miserável”. É a nossa humanidade que nos aproxima do Divino. A Sua Misericórdia nos resgatou das cadeias do maligno. A Deus basta que nos deixemos amar. A nós, basta-nos a Sua Graça.

sexta-feira, 14 de março de 2008

Despertar



Resolvi que vou deixar de ser trouxa de mim mesmo... é hora de acordar. Não quero mais mudar o imutável. Sufocarei o sentimento antes mesmo que o oxigênio lhe chegue aos pulmões. Não... não se trata de um aborto. Pense nisso como uma poda. É possível que o mesmo sentimento volte a crescer em outro lugar, em outra direção, e o principal: em outra hora.


Por enquanto meu coração não será passarela de paixões. Durante o curto tempo em que se deixou levar ele não atraiu a "platéia". E isso pra mim já é motivo suficiente para tomar providências. Não cheguei a dizer nada. Pessoas sensíveis certamente percebem certas coisas, gestos... atitudes. Mas nada de corresponder. Por isso volto a me preocupar apenas com meus afazeres, minha família, e meu trabalho. A amizade que em meu peito queria subir alguns degraus volta ao lugar de onde não deveria ter saído para evitar frustrações. A formalidade toma novamente o lugar que a liberdade almejava por causa da nossa pouca intimidade. Os inúmeros codinomes ou pseudônimos são agora reunidos num só: AMIGA.


O sonho nem chegou a ser muito longo. Por sorte o despertador da realidade acabou de tocar.

terça-feira, 11 de março de 2008

LEMBRANÇAS...


Era um domingo de um ano passado e mês remoto. Dia de Missa. Não me lembro de muitos detalhes. Mas era um daqueles domingos em que o padre fica esperando a gente na porta da Igreja, e nos cumprimenta com uma simpatia quase convincente.
A Igreja estava cheia. De ardor nem tanto, mas de gente sim. E enquanto a Missa não começa, a maioria dos fiéis se ocupa da mesma coisa: ver quem chega, com quem chega, e que roupa está vestindo. É que não é de hoje que Missa tem se tornado uma espécie de evento social da semana onde as pessoas aperfeiçoam a hipocrisia de serem baluartes dos bons costumes enquanto os destroem no dia-a-dia. Eu me lembro também que o cheiro que exalava dali não era de incenso. O aroma que, se não alcançava os céus, ao menos passeava por nossas narinas, era uma mistura de avon com monange, boticário com nívea...
De certa forma (ou não tão certa, depende do ponto de vista) estava tudo dentro dos padrões. Mas eis que derrepente aparece alguém totalmente diferente do que, até então, estava “rezando a cartilha”. Um homem extremamente pobre. Não tinha a tradicional roupa de domingo para ir à Missa. Aquela que você deixa guardada a semana toda porque só se usa na Igreja. Aquele homem usava um terno encardido, tinha a barba por fazer e carregava um saco nas costas. Daqueles que cabem o mundo e pesam tanto quanto. Ele pegou um “jornalzinho” e se dirigiu até o banco. Em menos de dois minutos, o banco que estava com umas três pessoas ficou só pra ele. Irrita pensar que dentro de alguns instantes esses “irmãos” que saíram de perto dele pediriam perdão cinicamente no ato penitencial e diriam ser um com Cristo sem serem um com o outro. Mas aquele homem só estava começando a me intrigar. Notei que ele rezava com devoção. E quando finalmente o padre começou a missa, vi que ele acompanhava tudo, e com um fervor que (assim como sua pobreza) destoava do restante da assembléia. Senti vergonha. A sujeira daquelas vestes parecia refletir a imundície de minha alma. A pobreza daquele homem parecia denunciar minha miséria. Eu não tive nem coragem de comungar. E ao vê-lo fazendo, me veio a imagem da manjedoura... do Senhor que veio ao mundo pobre e humilde e quis estar no mais simples dos lugares. Veio a certeza de que, naquele domingo, Jesus não se contentou em se fazer presente no pão e no vinho, mas se fez também naquele homem que, talvez, tenha sido o mais rico daquela noite, ainda que pobre e sujo. Não tem problema. Ele só estava por fora como muitos fiéis costumam estar por dentro.

segunda-feira, 10 de março de 2008

sentimentos

hoje eu não quero escrever muita coisa. prefiro sentir. esse tal "sentimento"... algo inerente à nossa condição humana, vez ou outra fica forte aqui dentro. aquele desejo de envolver nos braços, de acarinhar. desejo de ser cúmplice na busca pela felicidade, ser ombro na hora do consolo, ser o homem que completa o espaço reservado. que nome darei a esse sentimento? ainda não sei. hoje não tentarei controlá-lo. decidi que esta noite ele terá liberdade para passear em meus pensamentos sem a tutela da razão.

segunda-feira, 3 de março de 2008

Olha só isso...

Olha só isso!! ahahahahahahahah!!! Eu devia ter uns 19 anos quando escrevi isso. Foi real... havia uma musa inspiradora!! Hoje acho que vale a pena postar!! Podem rir... divirtam-se!

Talvez você goste de poesia. Digo isso devido ao fato de sua beleza ser digna de versos. Certamente, não fui o primeiro a dizer isso.
Confesso, entretanto, que nem todos os versos do mundo seriam suficientes para descrever-te. Para isso seria necessário, além do afã dos poetas "românticos", a objetividade dos "realistas", a eloquência dos "parnasianos", e a chance de fazer parte de sua vida. As obras de Castro Alves, Machado de Assis, e Olavo Bilac, seriam mais ricas se tivessem o privilégio de olhar-te. Desatino meu, sonhar contigo e conhecê-la tão pouco. Mas... o coração tem suas próprias razões, e isso justifica seu "desatinar". Contemplá-la faz-me ver além do visível. Faz-me um sincero admirador de sua pessoa, tal qual um apreciador de obras-primas, capaz de tudo para ver tão belo feito. De fato... és obra-prima de Deus. Feita com a mais bela inspiração. Com a tintura da sensibilidade e o pincel da singeleza. E eu, mecena, dou-te o que tenho de mais valioso, esperando... quem sabe um dia, contemplá-la sem mistérios... dizer-te de tua especial beleza. Meu coração é teu. Mas paro por aqui. O anonimato me dá a sensação de liberdade, e só assim escrevo com audácia. A mesma audácia que anseio possuir para falar-lhe do que sinto. Certamente não sou quem você espera... O homem de tua vida inteira... Apenas um desvairado sem "eira" nem "beira". Mas ainda assim escrevo. Por hora "...sou teu, e te devo por essa riqueza..."

domingo, 24 de fevereiro de 2008

DEUS NO COTIDIANO


Não me conformava com a normalidade da minha relação com Deus. Nenhum fato extraordinário como uma carruagem de fogo, por exemplo. Nenhuma visão de anjo, santo, ou algo do gênero. Tudo era tão comum, que eu não me achava um homem de Deus. Nós somos assim. Criamos expectativas demasiadamente fantasiosas, anulamos a realidade, e nos sentimos no direito de nos decepcionarmos quando ela se sobrepõe. É preciso sonhar com os olhos abertos.
Sempre tive a certeza de que um dia, quando alcançasse um determinado grau de intimidade com Deus, minha relação pessoal com ele seria semelhante à de Moisés. Eu me isolaria, não num monte, mas no meu quarto mesmo. Lá eu ficaria horas absorto, estático. Depois, sairia com o rosto resplandeceste para enfrentar os problemas da vida. Eu não entendia as metáforas. Eu não tinha consciência que esse meu sonho “extravagante” de me relacionar com Deus era uma máscara. No fundo, eu queria apenas respostas para minhas dúvidas com essa “manifestação poderosa” do Senhor. Falta consciência prática para entender que o fim último da manifestação Divina não é saciar nossas dúvidas, mas nossa sede de amor. Eu queria do Senhor um grito para calar minhas perguntas. E ele me dava do Seu silêncio. Há silêncios que falam... Hoje acho que compreendo o que Sto. Agostinho quis dizer quando escreveu: “Respondei com clareza, mas nem todos Vos ouvem com a mesma lucidez. Todos Vos consultam sobre o que desejam, mas nem sempre ouvem o que querem.” (Confissões, Livro X, Cap. 26).
Somos tão racionais para lhe dar com a vida. Mas quando se trata da nossa relação com Deus, sempre queremos respostas que anulam a razão para que possamos crer. Queremos respostas capazes de abrir o mar do cotidiano. Mas penso que Deus quer que mergulhemos nesse mar. Há coisas em suas profundezas que precisamos conhecer.
Começo a entender que os homens de Deus não são apenas os capazes de vê-Lo na novidade do sobrenatural, mas os que sabem contemplá-Lo na normalidade do dia-a-dia.

sábado, 16 de fevereiro de 2008

O SÓCRATES DO PRESENTE



Um texto de Alexandre Raposo sobre a primeira matéria de um “foca” me fez repensar algo interessante: O jornalista é um socrático.
Digo isso, e sinto a necessidade de ir mais fundo na afirmação: se o jornalista não for socrático, ele precisa se tornar um.
Todos já ouvimos falar de Sócrates. O precursor da filosofia clássica. Aquele que acreditava ser um “parteiro” da verdade na medida em que ajudava os atenienses a colocarem para fora o conhecimento germinado em si. Aquele que interrogava as pessoas a fim de que encontrassem, por seu próprio bom senso, a verdade do que diziam crer e viver. É precisamente nessa característica que vejo a sinonímia entre Sócrates e o jornalista. Sua profissão é baseada na busca pela verdade dos fatos, aguçando (e não manipulando) o senso crítico da sociedade. E podemos perceber essa relação até no fato de que o homem não dispõe de todo o tempo pra refletir calmamente sobre os seus “por quês”, de modo que muitos passam a vida sem conseguir responder seu “lead” pessoal. O jornalista também tem disso em sua profissão. Buscar a verdade dos fatos, apurar informações, entrevistar pessoas, redigir o texto, correr para a redação, editar a matéria. Tudo isso implica numa corrida contra o tempo. O texto de Alexandre Raposo até cita o fato de a pauta dificultar a tarefa do jornalista (foca ou não) a não lhe fornecer todos os dados sobre a matéria a ser feita. O escritor alega que não haveria tempo suficiente para fazer um esqueleto completo da matéria. E é aí que entra o papel socrático do jornalista. É ele quem precisa fecundar o próprio pensamento em prol da sociedade, a fim de que ela possa parir a verdade, a notícia. Pode-se traduzir essa metáfora de fecundação, formação, e nascimento por preparação, apuração e redação. Mas tudo isso correndo contra o tempo.
Isso porque a escassez de tempo não quer dizer que a preparação da matéria a ser feita seja desnecessária. Pelo contrário, a capacidade de distinguir entre supérfluo e essencial se faz indispensável por que a matéria precisa ser entregue até o fim do expediente. Entra em cena a seleção de entrevistados, dos lugares visitados, etc. E essas decisões, quase que imediatas, não podem amputar nenhuma parte da matéria, e para isso, o jornalista tem de ser realmente um cirurgião, um parteiro.
É interessante o ponto de partida que o escritor (e o padrão jornalístico de entrevistas, de um modo geral) adota como base para uma boa matéria: a dúvida. O jornalista tem que sair para apuração com essa regra de Descartes em mente: Duvide de tudo. Da pauta, das fontes, da própria memória, etc.
E há uma explicação para que seja assim: os “filhos da pauta” correm o risco de perder a intuição se ficaram presos a ela. Além disso, tentar entender a pauta por si só é perigoso. Melhor seria falar com o editor. Usar a pauta do editor como referência para “sua” própria pauta.
Do mesmo modo, as fontes são referências rumo àquilo que se quer obter da pauta. O fato das fontes estarem disponíveis a dar entrevista não significa que elas estão dispostas a contar toda a verdade sobre os assuntos pertinentes à matéria. Daí a necessidade de entrevistar mais de uma fonte e ver cada entrevista como uma peça de quebra-cabeça.
E aí falamos da memória. Ela não reproduz na íntegra o que foi dito, ouvido, visto. A memória, em si, é uma edição de fatos vividos, cujo editor é o subconsciente. Confiar nela é perigoso. Então, anotemos tudo. Registremos o máximo possível de informações. Seja através de filmagens, de fotografias, de gravações, etc.
Depois de coletadas as informações, chega finalmente o momento de formar o corpo da matéria para o seu “nascimento”. Ordenar os dados obtidos, montá-los de forma concisa e coerente. Tudo isso é pensar de maneira filosófica diante das normas técnicas que devem ser atendidas para melhor compreensão do público alvo. É um processo trabalhoso. Mais do que isso, é um trabalho para o bem social e não individual. Por isso o paralelo com a filosofia socrática. A parteira não trabalha para o nascimento de seu filho, mas para o nascimento dos filhos de outras. Por isso creio que, se a primeira matéria é inesquecível, pode se tornar ainda mais na medida em que se compreende que ser jornalista é uma maneira de ser “filósofo do cotidiano”.

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2008

Eneagrama

Foi a Gisele, uma amiga lá de Maringá, quem me apresentou o Eneagrama. Gostei dele. Ainda não posso dizer que somos amigos, mas ele me pareceu confiável. Disse pra mim que na classificação dos 9 tipos de persnolidades que ele faz, eu me enquadro no número 1: "o perfeccionista".
Vejam bem: eu disse perfeccionista, não "perfeito". Até mesmo porque é minha própria imperfeição que me faz ser assim. O Eneagrama me conhece bem. Sabe que sou mais exigente comigo mesmo do que qualquer outra pessoa pensa ser. Que as críticas dos outros é o que sempre espero. Que odeio ir pra casa com as pessoas batendo nas minhas costas e dizendo que fiz um bom serviço. Segundo o Eneagrama, eu não sei lhe dar com elogios. Sempre os acho muito falsos. Nunca acho que as coisas que faço ficam boas.
Acho até que os editores que trabalham comigo (e não só eles) se chegarem a ler isso serão tentados a dizer: "ainda bem que ele sabe o quanto é fraco!!!". E farão isso com a mesma razão que têm quando me corrigem.
Tudo pode ser melhor do que é. Tudo pode ser aperfeiçoado. E não me digam que é só o tempo que pode ajudar. Tempo não é andador de criança pequena. Ele apenas ajuda a lapidar a pedra bruta que está em nós. Mas não faz isso sozinho. Precisa do nosso empenho, do nosso perfeccionismo, da nossa dedicação.
O Eneagrama disse que esse perfeccionismo, quando em exagero, é perigoso. Pode se tornar uma espécie de utopia, algo que se busca sem conseguir achar. Mas, no momento, tenho mais medo da inércia do que da busca desenfreada!!

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2008

Rascunhos!!!

Nem me venham com essa história de que sou pessimista. Prefiro a "alcunha" de realista. Apenas me alimento dos fatos. As expectativas são meros aperetivos, que ao invés de matarem a fome, abrem o apetite. Definitivamente, não as quero.
Acontece que tem pessoas (amigos, colegas) que torcem por mim. Tanto que elas próprias, por sua conta e risco, me contrataram como repórter da Rede Globo de Televisão. Mas os fatos não são esses.
Sou um jornalista recém-formado, chamado de "foca" pelos que são da área. Estou cobrindo férias numa afiliada da Globo, como um funcionário contratado provisoriamente por uma empresa terceirizada. Meu contrato começou a vigorar em dezembro de 2007 e termina no final desse mês. Depois "The End". Procurarei serviço. Em Londrina, Curitiba, até mesmo em Jacarezinho, se for o caso. Aprendi a não ter expectativas. Trabalho para aprender a ser últil. E por enquanto me acho longe disso. Mas a esperança existe. Esperança de que eu consiga, nesses dias que me restam lá, exercer um bom trabalho. Ser um bom profissional e uma boa pessoa. Que eu aprenda com os erros, que eu perceba minhas falhas e as evite com afinco. Que eu não perca de vista o lugar de onde eu vim pra alimentar o sonho de fazer com que minha mãe se orgulhe do filho que criou.
Enfim, meus caros: Fabiano é alguém em busca de seu espaço. É uma criança que ainda não anda sozinha, sem apoio. É a teimosia de querer ser melhor mesmo contra uma série de limitações. É assim (e só assim) que eu me vejo. A literatura machadiana diz que "o menino é o pai do homem". A minha realidade não tem o fascínio que é típico das histórias de sucesso. E o motivo é simples: a história está em andamento. O sucesso dela depende da minha competência em escrevê-la. Ainda estou rascunhando.

Rua Sem Nome

Jardim monte cristo. Zona leste de londrina. Por ali vivem muitos nordestinos que vieram para o paraná tentar uma vida melhor. Tudo começou com a construção de alguns barracos há mais de quinze anos. Hoje muitos deles já são casas.
O bairro possui muitas coisas que outros não tem e até lutam pra conseguir: rede de água, iluminação, asfalto... Mas o que falta também é essencial no dia-a-dia dos moradores.
Nos postes ou nas casas não há placas que indiquem o nome das ruas. A "nilson gonçalves siqueira" é conhecida como "rua dos pernambucanos". Mas não se trata de uma homenagem aos moradores. É que nem mesmo eles sabem o verdadeiro nome.
- "Seo jurandir, qual o nome da rua onde o senhor mora?", pergunto.
- "Não sei... é um nome tão esquisito que quando a gente precisa comprar alguma coisa tem que anotar num papel", responde jurandir da silva, que tem um bar na vila e adora criar pássaros.

O motorista clébson de souza explica como se localizam dentro do bairro:
- "a gente chama de rua 5, rua 6... e por aí vai".

Ali o correio não chega. dizem que o lugar não está mapeado. são os moradores que têm que se dirigir até as agências. o siate só chega quando alguém orienta a equipe desde a entrada do bairro.

- "conta de água e luz chega certinho. Isso eles não esquecem de entregar, não!", diz Clébson.

Os moradores que fazem compras no comércio no centro da cidade também não podem contar com a entrega em casa.

- " A gente tem que fretar um carro e trazer, por que eles não acham nossa casa. Acham até que a gente tá querendo dar um 'trambique'...", conta jurandir.

sábado, 26 de janeiro de 2008

Prolixo

Meu problema é a objetividade. Sofro com ela em todos os lugares: na profissão, nos meus textos, nos relacionamentos com a família, com os amigos... Definitivamente, sou prolixo. Mas hoje quero ser direto: tenho medo. E vamos direto à lista de temores porque aspirante à jornalista não pode fazer rodeios.
Tenho medo de não ser útil. De passar a vida toda como se eu não fosse necessário para alguém, ou para algum trabalho.
Tenho medo de fazer com que minha incompetência provisória resolva se perpetuar, aumentando o flagelo que já venho sofrendo.
Tenho medo de que ninguém perceba que, por trás de minha aparente apatia, há uma vontade enorme de crescer, de melhorar, de aprender.
Tenho medo de ser escravo dos meus temores! Tenho medo de não querer ousar! Tenho medo de me esquecer de onde vim para me lembrar onde preciso ir!
Por enquanto, só não tenho medo de escrever! Mas peço encarecidamente que me perdoem por ser tão pouco objetivo!!!

segunda-feira, 21 de janeiro de 2008

lágrimas

chorar é transbordar emoções. é como se os reservatórios da alma não as suportassem e elas vertessem em lágrimas. é reconhecer que se tem necessidades, confrontar-se com a realidade de ser o que se é. chorar é a constatação do homem enquanto pessoa.
hoje eu quero chorar. quero que junto com as lágrimas saia toda minha incapacidade, minha passividade, minha apatia, meus complexos.
quero um choro que exorcise meus medos mais profundos. aqueles que homem algum, por mais astuto que seja, consegue ver. é que as pessoas costumam esperar de mim mais do que posso dar.
hoje tenho lágrimas. dizem que ela rega a fé. então aqueles que, como eu, estão com a fé ressequida, podem servir-se delas. Que ela nos sirva de algo do qual possamos nos orgulhar amanhã.

quinta-feira, 10 de janeiro de 2008

luta...

dizem que a vida sem luta é igual a um cachorro sem pulgas. Se for assim eu devo estar com sarna. A situação é tamanha que posso até me dar ao luxo de usar outra metáfora: a de que estou no Iraque. Mas não quero me refugiar em lugar nenhum. Quero apenas aperfeiçoar minhas armas. Ou, voltando à minha situação canina, tomar um bom banho de "criolina" para vencer a sarna. Tanto faz uma coisa ou outra... só não aceito fugir. Morro lutando, me coçando... mas não correndo.

quinta-feira, 3 de janeiro de 2008

Feliz

Tô feliz!! A virada de ano perfeita! Passei em casa... colinho de mãe, comida da vovó, cheiro de família!! Sem contar os abraços dos amigos. Não há nada melhor do que isso, chegar no "porto seguro" depois de correr atrás da notícia.
É que notícia é igual vizinho na hora do almoço: chega sem avisar. O vizinho ainda senta, fala da filha do outro vizinho enquanto a gente olha pra TV e pergunta: "pra que tirá a chinela, Rita???". A notícia não. Ele entra pela porta da sala e some pela porta da cozinha... Aí a gente sai correndo atrás dela numa São Silvestre tão doida que dá vontade ser queniano pra chegar até o final. É... ao menos até fevereiro é disso que vou viver... de perseguir notícia...
A propósito, amigos, com licença!! Eis que que passou uma por aqui agora há pouco.... preciso pegá-la!!