sábado, 13 de setembro de 2008

Algumas histórias de ônibus




- Senhor!! Senhor!! O senhor está sentado na minha poltrona, a número 1. Eu disse enquanto conferia o bilhete de passagem pra me certificar de que estava mesmo com a razão.

Ele não pareceu se importar. Olhou para mim com cara de "paisagem", ajeitou os óculos que estavam tortos e me disse bocejando:

- Tem um monte de poltronas vazias aí pro fundo! E voltou à sua posição de hibernação.

A minha paciência, que nem começara a ser testada, se esgotou. Olhei para aquela "pamonha humana" e falei sem pensar:

- Então o Senhor faz favor de levantar essa bunda gorda daí e escolher qualquer uma delas pra continuar roncando. Eu comprei o direito de ir nessa poltrona e é nela que eu vou.

O homem fez cara de quem não gostou. Mas no duelo de caras feias eu acabei levando a melhor. Ele se levantou, pegou as coisas dele e foi pro fundo do ônibus. Lá estava eu na "Poltrona Prometida" usurpada por um filisteu inóspito que fora vencido.


Um lampejo de remorso veio a mim quase que imediatamente. Será que eu não tinha exagerado? Não fui grosso demais com o pobre homem? Certamente eu não precisava ter falado daquela maneira. Mas eu já estava cansado de toda vez que entrava num ônibus ter que me sentar em outro lugar porque o meu já estava ocupado. Pior é que depois o dono do lugar sempre chega e faz aquela cara sem graça que te deixa como um cão sarnento sendo convidado a sair da porta do buteco. Não... eu estava decidido a ser chato e sistemático. Cada macaco no seu galho. E sentar-se no galho alheio pra mim passou a ser visto como uma tremenda falta de respeito.

Certa vez eu ia para Curitiba quando um bêbado sentou na poltrona atrás da minha. A língua parecia pesar 5 quilos dentro da boca e o aroma denunciava que atrás de mim estava a personificação de um alambique. Mas o meu calvário começou mesmo quando o sujeito começou a tacar o pé sobre a minha poltrona pra dormir o sono dos "manguaçados". Primeiro foi a pancada que levei na cabeça. Depois o chulé dos pés suados, que misturado com cheiro da pinga fazia o oxigênio parecer ácido. Deu trabalho convencer o fulano a dormir igual gente.

Outro dia, quando também ia pra Curitiba, o show ficou por conta de um menino de uns 4 anos de idade. De Jacarezinho até Jaguariaíva o menino só sabia gritar. Um grito agudo que fazia o choro da Raqueli parecer um mero timbre de contralto perto dele. Quando se cansava dos uivos, o guri apontava para o pasto e berrava a plenos pulmões:

- Óia o booooooooooooi, Manhê!!!

Com muito custo, em meio aos berros, consegui pegar no sono. Sonhei. E o que vi, ao contrário da realidade, fez com que eu acordasse rindo. Durante a viagem, quem estava dentro do ônibus era o boi. Pude vê-lo apontando pro pasto, desesperado, e mugindo algo que em bom português soaria como :

- Óia o meninoooooooooo, Manhê!!!!





2 comentários:

Anônimo disse...

Olá amigo véio...me acabei de rir com as histórias...eu posso afirmar q realmente isso acontece dentro dos ônibus...o respeito é mesmo difícil.Mas a paciência é uma virtude.Ah vc esqueceu de escrever a história da lente de nossa amiga Fran!!!rsrsrsr.
Estou com saudades.Um grande abraço.

tarciso disse...

Bem, quem muito viaja tem histórias pra contar... essas aí foram as pitorescas e a todas vc sobreviveu apesar de certo sentimento de culpa no caso da bunda gorda que fizeste mover-se do lugar... mas não devia sentir culpa porque o cara foi ou tentou ser muito do folgado... oia o meninoooooooooooo...