segunda-feira, 23 de março de 2009

Sertanejo

Quero começar citando o trecho de um dos grandes clássicos da música sertaneja: A Boate Azul. A letra diz: “a dor do amor é com outro amor que a gente cura...!!!”.

Discordo por completo. A dor do amor se cura é com amor próprio. Não queira que uma outra pessoa faça por você aquilo que só você pode fazer por si mesmo. Não seja egoísta. Quando você se relaciona com outra pessoa, saiba que ela quer pra ela a mesma atenção que você quer pra si. Ela espera reciprocidade, e não uma via de mão única. Não há relação que dure quando um só dá, e não recebe. E quem quer curar a dor do amor quer apenas receber do outro, como se ele fosse um remédio. Não tem o que dar.


Parece mentira. Mas poucas pessoas se dão conta de que uma relação madura é aquela em que não é preciso cobrar atenção nem cumplicidade. Em que a conversa é tão necessária quanto os beijos, abraços, e carinhos. O amor só se torna cura quando não é visto como remédio, e sim como o amor em si mesmo. Não é por acaso que Kalil Gibran escreveu que o amor se basta.


Tudo bem... mas o que o trecho da “boate azul” tem a ver com isso? Tudo.


Querendo, ou não, trazemos conosco resquícios de nossos relacionamentos passados. Traumas, medos, hábitos, expectativas...


Criamos bloqueios, firmamos conceitos. Somos a soma dos nossos casos antigos. E aí, quando nos envolvemos com outra pessoa, vemos que não somos tampa de panela de ninguém. Isso é lenda. Na prática eu tenho que me moldar ao outro e o outro tem que se moldar a mim. Somente através desse esforço será possível que haja o “nós”. Caso contrário a relação é apenas uma mera conveniência, em que os pronomes continuam no singular: Eu e Tu. Estar realmente aberto pra alguém implica superar os traumas passados, os medos antigos. Estar realmente aberto a alguém é se permitir partilhar, conviver, conhecer. E essa é a atitude que só a pessoa pode tomar.

E o que é que determina isso? O tempo? A intensidade do sentimento? Acho que nem uma coisa nem outra. Certamente isso tudo ajuda, mas não determina. Acredito que essa abertura tem mais a ver com caráter e sinceridade consigo mesmo do que qualquer outra coisa.


E como comecei com música, encerro com Almir Sater e a sabedoria cabocla: "Ando devagar porque já tive pressa... e levo esse sorriso porque já chorei demais!!!"







Um comentário:

tarciso disse...

Fabiano - mais uma vez leio aqui uma beleza de texto no qual não cabe qualquer reparo em sua reflexão porque, de fato, a verdadeira ventura de uma relação a dois se constrói arduamente a quatro mãos...