terça-feira, 11 de março de 2008

LEMBRANÇAS...


Era um domingo de um ano passado e mês remoto. Dia de Missa. Não me lembro de muitos detalhes. Mas era um daqueles domingos em que o padre fica esperando a gente na porta da Igreja, e nos cumprimenta com uma simpatia quase convincente.
A Igreja estava cheia. De ardor nem tanto, mas de gente sim. E enquanto a Missa não começa, a maioria dos fiéis se ocupa da mesma coisa: ver quem chega, com quem chega, e que roupa está vestindo. É que não é de hoje que Missa tem se tornado uma espécie de evento social da semana onde as pessoas aperfeiçoam a hipocrisia de serem baluartes dos bons costumes enquanto os destroem no dia-a-dia. Eu me lembro também que o cheiro que exalava dali não era de incenso. O aroma que, se não alcançava os céus, ao menos passeava por nossas narinas, era uma mistura de avon com monange, boticário com nívea...
De certa forma (ou não tão certa, depende do ponto de vista) estava tudo dentro dos padrões. Mas eis que derrepente aparece alguém totalmente diferente do que, até então, estava “rezando a cartilha”. Um homem extremamente pobre. Não tinha a tradicional roupa de domingo para ir à Missa. Aquela que você deixa guardada a semana toda porque só se usa na Igreja. Aquele homem usava um terno encardido, tinha a barba por fazer e carregava um saco nas costas. Daqueles que cabem o mundo e pesam tanto quanto. Ele pegou um “jornalzinho” e se dirigiu até o banco. Em menos de dois minutos, o banco que estava com umas três pessoas ficou só pra ele. Irrita pensar que dentro de alguns instantes esses “irmãos” que saíram de perto dele pediriam perdão cinicamente no ato penitencial e diriam ser um com Cristo sem serem um com o outro. Mas aquele homem só estava começando a me intrigar. Notei que ele rezava com devoção. E quando finalmente o padre começou a missa, vi que ele acompanhava tudo, e com um fervor que (assim como sua pobreza) destoava do restante da assembléia. Senti vergonha. A sujeira daquelas vestes parecia refletir a imundície de minha alma. A pobreza daquele homem parecia denunciar minha miséria. Eu não tive nem coragem de comungar. E ao vê-lo fazendo, me veio a imagem da manjedoura... do Senhor que veio ao mundo pobre e humilde e quis estar no mais simples dos lugares. Veio a certeza de que, naquele domingo, Jesus não se contentou em se fazer presente no pão e no vinho, mas se fez também naquele homem que, talvez, tenha sido o mais rico daquela noite, ainda que pobre e sujo. Não tem problema. Ele só estava por fora como muitos fiéis costumam estar por dentro.

4 comentários:

Marianne Rodrigues Andrade disse...

Biano querido, que sensibilidade a sua... seu feio me fez chorar!!!! Deus continue te capacitando a ajudar-nos a enxergá-los nas outras pessoas!!! Bjão c/ muita saudade!!! Má

Gi Olliotti disse...

Amigo,
muito real seu texto.
Essa cena acontece muito eu mesma já presenciei. É triste, mas é real.
Ainda bem que Deus vê o coração!
E como disse Sainta-Exupéry:
"O essencial é invisível aos olhos"

Parabéns! Qto mais eu leio seu blog, mais te admiro.

Você é gigante...
Grande abraço!

tarciso disse...

Há situações imaginárias que poderiam ser reais e há situações reais que parecem ficção. Infelizmente, o texto duro e raso - nesse caso - ainda que eventualmente ficcional, não pertence ao reino da fantasia e só reflete o que de uma forma ou de outra fazemos ou deixamos de fazer nos templos de verdade... Que essa semana santa iminente nos ajude a buscar a verdadeira conversão!
Abçs

Anônimo disse...

poise filho do santicimo enquantos muitos se preocupa em esta xeirozinho por fora mais é uma carniça por dentro´e enquanto tem muitos filhos de Jesus passando fome por ai sujos por fora e limpissimo por dentro bonito por dentro